Como diz em Eclesiastes:
Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
- Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
- tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;
- tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
- tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
- tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
- tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
- tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Falar do tempo pode não ser a coisa mais penetrante em mim ou para mim, mas hoje me pego sentindo falta de gente de verdade, vivendo em tempos de verdade, com suas próprias verdades. Não há mentiras para quem conjuga sua vida com exatidão; e não é essa exatidão matemática, calculada e certeira, mas sim aquela que mede a quantidade exata para fazer algo funcionar, para poder mover, para ter sensações e motivos reais. Daí as pessoas passam a ser mais humanas.
O ser humano tem medo do tempo passar. De ver os dias escorrerem, de sentir a estação mudar, de andar no trem errado ao menos uma vez, de desaperceber quem fica a acenar. É fato que não é possível retroceder, no entanto é muito simples fazer o inusitado, buscar o novo outra vez, e aceitar que não será igual, mas que a intensidade propõe outros caminhos, distintas energias.
Eu não tenho medo de parar onde estou. Nem de romper. Nem de recomeçar. Nem de desviar. Nem de começar de novo. Nem de ser abstrata. O que me incomoda é ser cíclica sempre, andar sempre descalça, dirigir numa marcha lenta. Gosto de ver as coisas acontecerem, sentir o ar batendo forte no rosto, pisar em cacos por algumas vezes.
Sei que o que há de ser, tem muita força. E isso basta para sentir-me segura agora.
"Eu queria ser eternamente criança... Para que quando eu caísse, as pessoas ao invés de rirem de mim, me segurassem pelas mãos e me mostrassem que tudo estaria sobre controle..."
domingo, 26 de julho de 2009
Coisa.
E fica essa coisa assim quase a beira de um naufrago, quase deslizando pelo corpo, quase suando frio, quase fazendo um filho...
É uma coisa que vai não se sabe para onde e volta não se sabe porquê. Corroe minhas entranhas, absorve minha alma, mancha meu querer, enlouquece minha cabeça.
A coisa fica presa no peito e solta pelo espaço. Fica no colo para aquecer e no tempo para refrescar. Fica do lado de dentro para marcar território e de fora para ter sempre razão. Fica de frente para ser golpeada e de costas para ser massageada. Fica na loucura para ter santidade e na sanidade para ter explosões.
E essa coisa tem me feito viver... Ansiosa e louca. Paciente e amada. Bem e perturbada...
quinta-feira, 23 de julho de 2009
♥

Para se viver um grande amor não é preciso pijama de listras, chinelos macios, água no toucador. Para se viver um grande amor não é preciso letra segura, espelho que reflete os corpos nus. É preciso, sim, paixão, lucidez e loucura. Pra se viver um grande amor é preciso andar no bonde errado, amassar os travesseiros, quebrar os castiçais. Também fumar o cigarro pelo filtro, tomar iogurte com licor de anis, ver que a vida está sempre por um triz. Para viver um grande amor é preciso ter ciúme da mulher amada, imaginá-la sempre em cama errada, alvejar com o dardo do ódio o olhar do oponente, fazer do sexo suado uma lembrança onipresente. Para viver um grande amor é preciso empurrar o mesmo carro, rir do mesmo medo, saber a hora certa de revelar todo o segredo Para se viver um grande amor é preciso ausência da vergonha, babar, gozar, chorar na mesma fronha, enxergar com ternura as manchas dos lençóis. É preciso segurar o ponteiro dos segundos, remontar o velho filme de outra maneira, saber que da fração rompida não se faz a conta inteira É preciso engolir, digerir, expelir, fazer do ir e vir o ritmo do aprendizado, reinventar a noção do pecado e exorcizar antigos demônios. Para se viver um grande amor é preciso caiar a cabana ao cair do dia, fazer da melancolia um novo alento, colocar um capacete para dar com a cabeça no muro. É preciso não prever o futuro, lavar as mãos de graxa na torneira, deixar queimar o pão na torradeira e o leite fervido talhar no copo. É preciso covardia, tomar emprestado aquilo que não se devia, arrastar para o fundo o que para o raso servia. Para viver um grande amor é preciso estar perdido em si mesmo, os joelhos na areia e o sexo na lava, é preciso fazer do afago um golpe de clava, é preciso ser gentil, cordato, animal. Também necessária é a ruptura, costurar o machucado com fio de cobre, tecer o perdão em fio de ouro, esticar a vingança com navalha de prata. Para se viver um grande amor é preciso estar ferido. Para se viver um grande amor é preciso entornar a sopa chinesa, rir dos pés sujos, da obsoleta sobremesa. Urge também caçoar do velho disco de vinil que foi riscado, da mola do colchão que cutuca a coluna. É preciso estar tão junto quanto morar lado a lado, é preciso azulejar a passagem em tons de azul e sobretudo inverter os pontos cardeais. Para se viver um grande amor é preciso o olhar do bandido, a agonia da presa, o susto que o rato toma quando a luz é acesa. Para se viver um grande amor é preciso aprender alguns versos, riscar o bom senso da poesia, jogar água fria no rosto, vencer o torpor da apatia. Enfim para se viver um grande amor, é preciso mais que um tubo, mais que um ensaio, mais que um coração ferrado. É preciso ter certeza que mesmo um grande amor dissecado, um grande músculo distendido pode, mesmo que sadio, pra sempre estar perdido.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
A reticência
"..." - E eu gosto de me sentir reticência! (s.f. Supressão ou omissão voluntária de uma coisa que poderia ou deveria ter sido dita: a própria coisa omitida. Retórica Figura pela qual o orador, interrompendo-se, faz perceber o que não quer dizer expressamente.)
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Despedida
Que seja em forma de vendaval, ou mesmo de uma tempestade... Não obstante é dura a partida.
Foi naquele sonho quase perfeito, onde nossas peles sentiram seu calor, seu cheiro... Em que meu pesar ficou sobre seu pecado.
E depois do reencontro ocasionado, da transmissão de sentidos, da aurora raiando mais de uma vez, o amor vibrou forte e lento, terno e poderoso, ao passo que calmo e piedoso.
Fosse uma despedida, mas foi mais limpo e lindo que isso. Foi como o abraço de quem quer ficar, como os olhos de quem chora de alegria, como o sorriso que vem após lágrimas.
Era hora de partir, desfazer os nós. Eles assim o fizeram. Eu assim o fiz. Assim o senti. Assim, assim.
"Acho que sempre lhe amarei, só que não lhe quero mais!" - E não é desejo, nem vaidade. Agora, vamos?!
Foi naquele sonho quase perfeito, onde nossas peles sentiram seu calor, seu cheiro... Em que meu pesar ficou sobre seu pecado.
E depois do reencontro ocasionado, da transmissão de sentidos, da aurora raiando mais de uma vez, o amor vibrou forte e lento, terno e poderoso, ao passo que calmo e piedoso.
Fosse uma despedida, mas foi mais limpo e lindo que isso. Foi como o abraço de quem quer ficar, como os olhos de quem chora de alegria, como o sorriso que vem após lágrimas.
Era hora de partir, desfazer os nós. Eles assim o fizeram. Eu assim o fiz. Assim o senti. Assim, assim.
"Acho que sempre lhe amarei, só que não lhe quero mais!" - E não é desejo, nem vaidade. Agora, vamos?!
E?!
As vezes é preciso parar, voltar atrás... Retroceder. Em outras é o momento de ir adiante e se livrar dos pesos que ficam.
Mas que covardia seria a minha em deixar um troço da minha alma aqui! E que multilação permanecer!
E o que é o amor?!
Mas que covardia seria a minha em deixar um troço da minha alma aqui! E que multilação permanecer!
E o que é o amor?!
domingo, 5 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Episódio Djavu. Ele e Ela.

E quando Ela chegou ali, logo Ele foi avistado.
O coração falhou aquelas batidas, como era previsível.
Ele passou descompassado, sem notar, sem ser demais tingido pelas cores que estavam ao redor dela.
Os acordes do baixo, as vozes todas, tudo fantástico. E o olhar dEla sempre atento. Um cigarro, depois outro. E a testa dEle seguia sempre franzida. O cabelo mais curto desta vez. Um ano mais velho. A mesma mágica nos olhos.
E o peito dEla ardendo na vontade de perder-se e perder o juízo e as causas não concretas. E ir embora era mais forte, como o desejo de fugir de tudo e de todos. O seu olhar procurou o dEle mais uma vez. E outra. E de repente se esbarraram!
Mas nada mais existiu. O vento varreu a presença dEle. O silêncio calou o amor dEla.
O coração falhou aquelas batidas, como era previsível.
Ele passou descompassado, sem notar, sem ser demais tingido pelas cores que estavam ao redor dela.
Os acordes do baixo, as vozes todas, tudo fantástico. E o olhar dEla sempre atento. Um cigarro, depois outro. E a testa dEle seguia sempre franzida. O cabelo mais curto desta vez. Um ano mais velho. A mesma mágica nos olhos.
E o peito dEla ardendo na vontade de perder-se e perder o juízo e as causas não concretas. E ir embora era mais forte, como o desejo de fugir de tudo e de todos. O seu olhar procurou o dEle mais uma vez. E outra. E de repente se esbarraram!
Mas nada mais existiu. O vento varreu a presença dEle. O silêncio calou o amor dEla.
O tal carinho
Talvez esse carinho, ou isso que eles chamam de carinho, conserve acesa dentro de mim está agonia de querer viver. Sim, porque hoje querer viver já virou uma agonia infindável e dela quero estar respirando, sentindo o bater do meu coração...
E as direções foram todas trocadas, o amado já não é mais tão desejado, mas ainda tão querido. Os sinos dobram na hora do almoço, o inverso entra pela porta que ele deixou aberta.
As perguntas precisas não me respondem e os risos não lascivos não se dirigem a mim de encontro ao meu calor.
E seguir a viagem é necessário. Não que esteja sendo prazeroso...
E as direções foram todas trocadas, o amado já não é mais tão desejado, mas ainda tão querido. Os sinos dobram na hora do almoço, o inverso entra pela porta que ele deixou aberta.
As perguntas precisas não me respondem e os risos não lascivos não se dirigem a mim de encontro ao meu calor.
E seguir a viagem é necessário. Não que esteja sendo prazeroso...
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