As vezes eu ainda procuro entender certas coisas na vida.
Tenho dessas de entrar em casa com o guarda-chuva aberto,
de nunca por os pés esquerdos no chão assim que acabo de acordar,
de jamais pendurar minhas roupas no varau pelo avesso.
Tenho essa estranha mania de tirar os sapatos para entrar no quarto,
de acender um incenso para deixar o ar mais perfumado,
de olhar para o relógio e vagarosamente acompanhar os ponteiros.
Muitas vezes me perco arrumando gavetas,
colando fotos num album antigo,
consertando asas quebradas,
selecionando listas de músicas.
Confesso que gosto de me perder,
de alguns banhos gelados durante o ano,
do sabor que tem as gotas de chuva,
do calor que habita em meu quarto.
Mas dai vejo o tempo discorrer entre meus dedos e uma verdade, que é minha e tão somente, gritar ensurdecidamente.
E sou apaixonada pela vida.
Talvez aja em mim um pouco do que havia em Camões. Ou em Vinicius. Ou ainda de Lispector. Ou nada disso.
Talvez exista eu e o pulsar... E só.
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